• atrofia ou atresia de uma artéria umbilical normal derivada da alantóide;
• agenesia de uma artéria umbilical em função da parada do seu desenvolvimento a partir da alantóide;
• persistência da artéria alantóica.
Algumas evidências sugerem que a atrofia secundária de uma artéria previamente normal é o mecanismo mais comum. Remanescentes de uma artéria secundária têm sido identificados histologicamente no cordão umbilical de muitos casos de AUU. Outro ponto é que a agenesia primária de uma artéria umbilical nos primeiros dias de gestação (13º ao 17º) e a persistência da artéria alantóica parecem ser incompatíveis com uma anormalidade congênita tão comum e muitas vezes isolada.
Por ser uma entidade até certo ponto comum e em associação com uma grande quantidade de complicações obstétricas, os fatores de risco também não são poucos. Podemos dividi-los em maternos e fetais.
4.1. Fatores de risco maternos
• diabetes;
• hipertensão / toxemia gravídica;
• epilepsia;
• raça: africana, japonesa, do leste europeu;
• morte perinatal anterior;
• placenta prévia e placenta retida anteriores;
• oligodramnia e polidramnia;
• abortamento habitual.
4.2. Fatores de risco fetais
• malformações estruturais;
• alterações cromossomiais;
• gestação múltipla;
• crescimento intra-uterino retardado;
• prematuridade;
• natimortos;
• abortamentos de 1º trimestre e tardios.
A recorrência de AUU é uma questão ainda não definida pela literatura, não havendo estudos que a definam.
A detecção de uma artéria umbilical única pode ocorrer durante o pré-natal ou após o nascimento, muito embora a certeza só seja obtida com o histopatológico pós-natal.
É durante o exame ultra-sonográfico que o diagnóstico pré-natal é feito, geralmente pela não observação em um corte transversal do cordão dos três vasos característicos (face de Mickey Mouse).
Esse diagnóstico é influenciado por muitos fatores como espessura da parede abdominal materna; presença de cicatriz abdominal; idade gestacional; posição fetal; volume de líquido amniótico; tortuosidade dos vasos; experiência do examinador e qualidade do equipamento.
O método apresenta uma sensibilidade de aproximadamente 66% com quinze semanas de gestação e 97% com 19 semanas. O valor preditivo positivo mantém-se por volta de 75%, enquanto a especificidade e o valor preditivo negativo superam 95%.
A ocorrência de falso-positivos no exame ultra-sonográfico em geral se deve a uma análise isolada de apenas uma alça do cordão, visto ser freqüente a convergência de ambas as artérias em determinados pontos do cordão. Por isso, é mandatória a realização de vários cortes, incluindo os segmentos proximal, medial e distal, bem como com a visão transversal e longitudinal.
Dificuldades na avaliação do cordão umbilical podem ocorrer, tornando difícil a obtenção de um corte transversal ideal, principalmente nos casos de obesidade materna e oligodramnia. Com isso, têm sido descritos métodos alternativos para o diagnóstico dessa anomalia.
• Visualização da bifurcação aórtica fetal – na visão coronal geralmente notamos duas artérias ilíacas comuns de mesmo calibre. Em fetos com AUU a aorta distal apresenta um discreto desvio contralateral ao lado em que temos a ausência de artéria umbilical. A artéria ilíaca comum será mais calibrosa no lado em que temos artéria umbilical, e do outro lado ela será pequena ou mesmo não identificável.
• Diâmetro da artéria umbilical – em fetos com AUU mecanismos fisiológicos e hemodinâmicos de adaptação costumam aumentar o calibre dessa artéria umbilical para a manutenção de um bom aporte sangüíneo placentário. Em cordões trivasculares a artéria umbilical raramente excede quatro milímetros de diâmetro; já em cordões com AUU essa artéria terá mais de quatro milímetros em grande parte dos casos, principalmente quando avaliados após 26 semanas.
• Relação entre os diâmetros da veia e artéria umbilicais – como citado acima, vemos que a AUU geralmente tem um aumento em seu diâmetro, o que não é acompanhado integralmente pela veia umbilical. Dessa forma, temos em cordões trivasculares uma relação entre diâmetro da veia umbilical e diâmetro da artéria umbilical maior que 2, enquanto nos cordões bivasculares essa relação é menor ou igual a 2.
• Visualização das artérias ilíacas internas ao longo da bexiga fetal – baseia-se no fato de ambas as artérias umbilicais originarem-se como extensões das artérias ilíacas internas, as quais circundam a bexiga fetal. Utiliza-se um corte axial da bexiga, com as espinhas isquiáticas posteriormente e o “umbigo” anteriormente, e emprega-se então o Doppler colorido, evidenciando apenas uma dessas artérias ilíacas ao longo da bexiga.
A relação entre AUU, malformações fetais e cromossomopatias tem sido mostrada em numerosos estudos, embora haja muita discordância com relação à verdadeira incidência de alterações severas nesses fetos.
Enquanto alguns citam 25-30% de malformações em fetos com AUU, outros apresentam taxas de até 50%. As anomalias cromossomiais são mais freqüentemente encontradas nos abortamentos espontâneos e nos fetos com malformações múltiplas e praticamente nunca naquelas apenas com artéria umbilical única, isolada.
Em um grande trabalho realizado por Lenug foram analisados 159 recém-natos com AUU e malformações associadas, e observou-se uma grande ocorrência de malformações múltiplas. Quanto aos órgãos, o sistema mais envolvido foi o Musculo-esquelético (37%), seguido pelo Genitourinário (33%), Gastrointestinal (27%), Cardiovascular (20%), SNC (12%) e Respiratório (9%).
Entre as cromossomopatias, notamos que as mais associadas são as trissomias do 13 e do 18, com pouca ou nenhuma associação com Síndrome de Down e menor associação com cromossomopatias sexuais.
7. Conduta
A detecção de uma artéria umbilical única geralmente ocorre durante exames ultra-sonográficos de rotina, em gestantes sem fatores de risco e que agora passam a necessitar de um acompanhamento mais detalhado por profissionais mais experientes em patologias fetais.
Um exame ultra-sonográfico fetal minucioso é o primeiro passo, avaliando toda a morfologia fetal para a detecção de possíveis malformações associadas, maiores ou menores. Embora alguns autores não recomendem alterar a conduta obstétrica caso outras alterações não sejam detectadas, baseados em estudos mostrando um bom prognóstico nesses casos, é prudente o emprego de uma propedêutica acessória, pois outras complicações podem se associar. Dentro dela ressaltamos a ecocardiografia fetal; o cariótipo fetal (idade materna maior de 35 anos e/ou com estruturais associadas); USG seriada para avaliar crescimento e vitalidade fetal; e exame detalhado do recém-nascido.
Com a evolução do uso do Doppler colorido na avaliação fetal estudos têm surgido com o seu emprego em gestações com AUU. O estudo da dopplervelocimetria dessas artérias umbilicais únicas tem mostrado que fetos apresentando altos índices de resistência têm um pior prognóstico quando comparados a fetos com dopplervelocimetrias normais, e que o diâmetro dessa artéria umbilical única é inversamente proporcional a esses índices de resistência. Isso comprova a teoria de que esse aumento da artéria umbilical é responsável pela manutenção de um fluxo sangüíneo adequado para o transcorrer da gestação. O achado de um Doppler da artéria umbilical alterado também aumenta o risco de malformações complexas e aneuploidias concomitantes, ao contrário de estudos com resultados normais.
Um outro ponto do estudo pelo Doppler é a avaliação das artérias ilíacas comuns, que mostram assimetria quanto aos índices de resistência e conseqüentemente ao fluxo sangüíneo.
O lado em que há ausência de artéria umbilical mostra valores de resistência maiores que do lado em que há a artéria umbilical única, discordância essa que aumenta com o evoluir da gestação em função da progressiva diminuição de resistência no leito placentário.
Essas alterações circulatórias intra-uterinas em fetos com AUU podem ser relevantes quanto às origens fetais de doenças do adulto, na medida em que crianças com AUU apresentam as artérias ilíacas comuns que supriram a placenta com lesões ateroescleróticas muito precoces, o que pode desempenhar papel na gênese de vasculopatias do adulto.
8. Prognóstico
Será basicamente dependente das malformações estruturais e anomalias cromossomiais concomitantes, determinantes da natimortalidade perinatal.
Vários estudos têm mostrado que a ocorrência de artéria umbilical única, isolada, apresenta um bom prognóstico, com discreta redução no peso de nascimento, idade de nascimento e índices de Apgar, e sem afetar o bem-estar do recém-nato, que apresenta um risco um pouco aumentado para malformações menores do trato genitourinário, como um rim ectópico.
Logo, fetos sem anomalias associadas que apresentem uma propedêutica pré-natal sem alterações geralmente evoluem muito bem no período pós-natal.
9. Conclusão
A ocorrência de artéria umbilical única procurou ser aqui bem detalhada quanto a todos os seus aspectos, principalmente diagnóstico e prognóstico, ressaltando a necessidade de uma correta propedêutica pré-natal. O acompanhamento pós-natal também é de fundamental importância, desde a confirmação histopatológica quanto ao screening do neonato e malformações associadas, o que garante a todos a certeza de um bom prognóstico ou a necessidade de um acompanhamento clínico-cirúrgico mais especializado.
E se o bebê tem artéria umbilical única?
E se durante o exame de ultrassonografia forem encontrados outras alterações no seu bebê?
Referências
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- Wiegand, Samantha MD 1; McKenna, David SMD 2;, Christopher Croom MD 2; Ventolini, Gary MD 2; Jiri, DMD Sonek, RDMS 2; Neiger, Ran MD 2. Jornal americano de Perinatologia. 25 (3) :149-152, março de 2008.
- Hua M, Odibo AO, Macones GA, Roehl KA, Crane JP, Cahill AG. Single umbilical artery and its associated findings. Obstet Gynecol. 2010 May;115(5):930-4
- Dagklis T, Defigueiredo D, Staboulidou I, Casagrandi D, Nicolaides KH. Isolated single umbilical artery and fetal karyotype. Ultrasound Obstet Gynecol. 2010 Sep;36(3):291-5.
- Defigueiredo D, Dagklis T, Zidere V, Allan L, Nicolaides KH. Isolated single umbilical artery: need for specialist fetal echocardiography? Ultrasound Obstet Gynecol. 2010 Jun 8.
Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do Código Penal.