Texto retirado do Blog da Renata Olah e foi escrito pela Thais Stella.
Apesar de todas as evidências apontarem para maior segurança de um parto normal, no imaginário popular, a cesariana é que é mais segura e não tem riscos. Ou os riscos são insignificantes em vista da segurança de, supostamente, “ter tudo sob controle”.
Freqüentemente, nos deparamos com frases do tipo: “Não queira arriscar a vida do seu bebê pela vaidade de um parto normal a qualquer custo…”
Gostaria de questionar um pouco os motivos que levam ao sentimento de falsa segurança da cesárea. Começo elencando algumas situações, e o que as pessoas pensam e dizem diante delas:
Situação 1 – O bebê que infelizmente morreu no parto.
a) Se foi normal: Tá vendo? E essas “radicais” ainda ficam defendendo o parto normal. E essa mãe, que ficou insistindo no parto normal? Assassina! Negligência Médica! Se tivesse feito cesárea, a criança estaria viva!
b) Se foi cesárea: Que pena. Os médicos fizeram tudo o que podiam, mas infelizmente a criança morreu…
Fatalidade.
Situação 2 – O bebê que nasceu muito, muito mal, mas se recuperou:
a) Se foi normal: Tá vendo? Ficou insistindo num parto normal, olha aí no que deu! A criança quase morreu! Irresponsável! Devia ter feito logo uma cesárea!
b) Se foi cesárea: Olha só como a criança nasceu mal. Graças a Deus que foi cesárea! Se na cesárea já nasceu mal desse jeito, se tivesse insistido no parto normal, a criança teria morrido, com certeza!
Situação 3- O bebê nasceu bem!
a) Se foi normal: Ué, é o normal.
b) Se foi cesárea: Tá vendo? Meu filho nasceu de cesárea e está ótimo! Essa história de riscos da cesárea era tudo mentira, olha só que lindo o meu filho…
O que quero mostrar com isso? Que, na representação social, a cesárea NUNCA pode estar errada. Se a criança morre ou nasce mal, na cabeça de muitas pessoas, a culpa nunca terá sido da cesárea. Já se for parto normal…
Mesmo quando a falha é da assistência e não da via de nascimento, logo o fato trágico é usado para ilustrar o perigo do parto normal. Fazendo isso, usamos de dois pesos e duas medidas para avaliar os procedimentos. Como, então, poderemos ter uma opinião isenta desse jeito?
Mas não é só isso. Há o vasto lugar desconhecido dos medos inconscientes e elaborações pessoais. Não é fácil se livrar de uma cultura que aprendeu a associar parto normal com dor e sofrimento, após gerações e gerações que sabiam muito pouco a respeito do funcionamento do próprio corpo. A menos que nos embrenhemos nessa busca, em nenhum momento da nossa vida temos condições de ter acesso a informações ricas sobre esse nosso corpo funciona na hora do parto. Então, não conheço nenhum assunto onde se propaguem tantos mitos, preconceitos, idéias confusas… E, consequentemente: medo, muito medo.
Estar com 40 semanas de gestação é estar cara a cara com o inominável desconhecido: é estar diante de uma situação de vida ou morte. Cesárea ou normal, existe o risco. Diante dele, ainda que não queira, toda mulher se posiciona. Assume os riscos que prefere correr, em detrimento de outros. Dar à luz é ter, pela primeira vez, que elaborar o principal papel de todas as mães: Deixar seu filho ir. Isso dói. Física e emocionalmente. Ter que ajudá-lo na passagem para uma vida independente. Isso acontece quando ele nasce, quando ele desmama, quando aprende a andar, quando vai à escola. A cada passo, a dor de uma pequena separação. Mas o parto é a primeira vez. A partir dele, nunca mais poderei ter a proximidade de sentir cada pequeno movimento do meu bebê, controlar tudo o que ele come, saber sempre exatamente onde ele está. Daí pra frente, tudo o mais será um risco: Como fazer pra ser uma boa mãe? Como “pegar o jeito” de amamentar?
Como fazer pra não deixar faltar carinho pra ele e ao mesmo tempo dar conta de todos os outros papéis sociais que tenho? Existe carinho demais, ou quanto mais melhor? Como dar conta de transformar esse pequeno ser numa pessoa feliz e digna?
São tantos desafios… Cada um traz um novo medo, uma nova superação…
Mas, sabem, eu me entristeço quando vejo uma mulher grávida que, por medo, não acredita em si mesma. Que fica triste quando o médico diz que ela precisa fazer cesárea porque seu corpo não dará conta de ter seu filho sem precisar de intervenção cirúrgica. Mas, mesmo triste, ela se submete. E ainda defende e justifica, como sendo dela, uma limitação que na verdade ela não tem. Eu a vejo como um pássaro lindo que, mesmo tendo duas asas perfeitas, permitiu-se acreditar que não voa, e assim não poderá jamais conhecer a imensidão e beleza do céu…
Não preciso que acreditem em tudo que digo. Gostaria apenas que todas as grávidas se perguntassem: E se realmente isso for assim tão belo? E se eu realmente POSSO, SOU CAPAZ de vivenciar essa experiência extraordinária?
Será que não vale a pena o esforço de pelo menos procurar uma segunda opinião, de questionar o meu médico até me sentir esclarecida, de ir um pouco mais longe da minha casa…?
Meu filho só vai nascer uma vez…
Há um significado profundo em um parto… A perfeição de podermos, pela primeira vez, eu e meu filho, ter a cumplicidade de confiar, de contar um com o outro para abrir os caminhos do meu corpo, em direção à vida feliz que ele terá…
Imagem: Tekatun
Este artigo pertence ao http://gestavida.blogspot.com/
Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do Código Penal.
Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do Código Penal.